Estou, como a maioria dos manifestantes, indignado há muito
tempo com o Estado brasileiro. Enquanto pagamos impostos elevadíssimos, Estado
entrega serviços de péssima qualidade: transporte público deficiente, estradas
esburacadas, escolas de péssima qualidade, ruas inseguras e sistema saúde
precário. Enquanto isso, nosso dinheiro vai para estádios caríssimos -superfaturados
e com baixo retorno social- , empresas beneficiadas pelos juros subsidiados do
BNDES, montadoras de automóveis, funcionários públicos com aposentadorias
extremamente generosas e etc. No entanto, temo pelo discurso de alguns grupos
ligados ao movimento, especialmente aquele que defende o passe livre. Nas
manifestações, vi cartazes afirmando que transporte não é mercadoria. É claramente
uma visão equivocada, fortemente fundamentada na ideia de que mercadoria é algo
essencialmente ruim, pois remete à ideia de lucro e de exploração do
trabalhador e da sociedade. Transporte é sim uma mercadoria, pois trata-se de
um bem (serviço) que deve ser provido aos seus consumidores (usuários). Como possui
elevados custos de produção, a tarifa zero implicaria em um subsídio enorme, que
comprometeria vários outros serviços públicos essenciais ou aumentaria ainda
mais a elevada carga tributária. Não existe nenhum serviço gratuito. Ou você
paga na roleta do ônibus ou paga com mais impostos ou redução de outros
serviços públicos. É simples assim.
É mais importante protestar pela melhoria do transporte
público, com mais ônibus, mais linhas de metrô, mais faixas expressas e etc. O
discurso anticapitalista deve ser superado para que a sociedade possa
efetivamente progredir. Afinal, apesar de algumas ressalvas, a experiência
brasileira mostra que os serviços públicos- como telefonia, infraestrutura e
outros- são providos de forma mais eficiente por empresas privadas. Provimento
de mercadorias e obtenção de lucros são aliados da sociedade, não inimigos.
Entendo que as manifestações já adquiriram dimensão bem
maior que a discussão sobre transporte público, mas considerei importante
discutir este ponto específico. Enfim, simpatizo com a indignação popular, mas torço
para que o movimento não seja contaminado por ideias marxistas, que só atrasam
a sociedade. Cheguei a ver um manisfestante fantasiado de Fidel Castro. Claramente, este manifestante não está defendendo a Democracia.
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