Os professores de Harvard, Reinhart e Rogoff, contribuíram
enormemente para nosso conhecimento sobre a evolução da dívida pública em mais
de 20 países avançados ao longo dos dois últimos séculos. Um árduo trabalho de coleta e tratamento de
dados serviu de base para o livro já sugerido em meu blog anteriormente.
R&R escreveram ainda um artigo em 2010 (download), no qual descrevem a relação entre dívida
e crescimento econômico, no período pós-guerra.
Concluem que existe uma correlação negativa entre crescimento e dívida
pública e que esta relação apresenta um forte ponto de descontinuidade após
razão dívida/PIB atingir o limite de 90%. De acordo com o trabalho, países com
dívidas tão elevadas apresentariam em média queda no PIB de 0,1%.
Herdon, um estudante de doutorado em uma universidade
vizinha à Harvard, identificou um erro na computação dos resultados, decorrente
da não inclusão de algumas linhas da planilha Excel. Após a correção, a
descontinuidade desapareceu. Foi um prato cheio para a imprensa e blogs de
Economia. Boa parte da imprensa escrita americana considerou o trabalho de R&R o
responsável pelas políticas de austeridade que tomam conta da Europa até o
momento e que o erro desqualificaria seus resultados. Alguns meios de
comunicação mais sensacionalistas chegaram a sugerir que aumento do desemprego
e pobreza no continente seriam culpa de um erro no Excel. No fim das contas, o
erro não foi tão grave assim. Mesmo após a correção, o resultado geral se
mantém: economias menos endividadas crescem mais. Os próprios R&R apresentaram dados bem mais acurados em artigo posterior (download), antes das correções de Herdon.
A imprensa escrita cumpre seu papel: fazer alvoroço para
aumentar número de leitores. Cabe aos leitores um espírito crítico para filtrar
melhor a informação/opinião. Já os blogs de economistas de esquerda flertam com
o ridículo ao tentar desqualificar o trabalho de R&R, pois – ao contrário dos
jornalistas- sabem que o erro não foi grave e que nenhum trabalho acadêmico,
isoladamente, tem tanta influência em políticas econômicas efetivamente
adotadas. Merkel liderou o movimento europeu pela austeridade por suas próprias
convicções e pela situação particular em que Alemanha se encontra em relação a
seus vizinhos. Claro que algumas idéias e artigos advindos da academia podem –
e devem- exercer influência na política. No entanto, é difícil acreditar que um único trabalho tenha sido tão
importante na formação de opinião de Merkel e de outros líderes europeus.
Extra: Krugman has gone wild. Decepcionante a postura do prof. Krugman neste episódio com argumentos bem distantes do esperado para um ganhador do prêmio nobel. Está fazendo política e prestando um desserviço ao entendimento de Economia. Shameful!
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