Existe certo desconhecimento
sobre estatística que alimenta teorias sobre manipulação de pesquisas. A evidência,
dizem, parece clara na eleição para prefeito de Fortaleza, onde as pesquisas apontavam
Heitor Férrer (PDT) em quarto Lugar, bem distante do segundo colocado, Roberto Cláudio
(PSB). Na apuração, a diferença foi mínima. Heitor obteve pouco mais de 20% dos
votos, aproximadamente dois pontos percentuais a menos que o candidato do PSB.
Não há como negar que as
pesquisas erraram, mas isso significa necessariamente má-fé? Não. Um conceito
central em pesquisas eleitorais é a margem de erro, muito intuitivo e de fácil
compreensão. Se um candidato possui, digamos, 10% de preferência entre os
eleitores entrevistados pode-se inferir que possui entre 8% e 12%, no caso de
2% de margem de erro. No entanto, o que poucos sabem é que a margem de erro
também pode estar errada, não por incompetência ou má-fé dos institutos de
pesquisa, mas, sim, pela natureza amostral de qualquer processo de coleta de
dados de forma não censitária. Isto é, pesquisas, ao contrário dos censos,
possuem uma probabilidade, tipicamente de 5%, de estarem completamente erradas.
Essa probabilidade é denominada tecnicamente de nível de significância.
Em suma, uma pesquisa, por capturar a opinião
de uma amostra, e não da população, serve apenas como um indicador, não garantindo
resultados dentro da margem de erro.
É claro que os argumentos acima
não afastam completamente a hipótese de manipulação ou, simplesmente, incompetência
dos institutos. No entanto, oferecem uma explicação alternativa baseada em
sólida teoria da estatística.
Em relação à pesquisa de boca de
urna, a teoria da conspiração se torna ainda mais fraca. Qual seria o incentivo
do instituto em manipular os resultados e enganar o eleitor, uma vez que essa pesquisa
é realizada no dia da eleição e divulgada após fechamento das urnas? A resposta
é óbvia: nenhum.
Portanto, por um simples raciocínio
lógico, não faz sentido a manipulação de pesquisas de boca de urna.
Conspirações devem existir em toda atividade humana, no
entanto, é preciso avaliar bem as explicações alternativas e o alinhamento dos
incentivos dos agentes envolvidos.
Existem outras teorias da conspiração, defendidas por
muitos, que também não passam no teste do alinhamento dos incentivos ou raciocínio
semelhante. Exemplos que me vêm no momento são:
(i)
Homem não foi à lua
(ii)
França comprou Brasil na copa de 1998
(iii)
Juiz sempre rouba em favor do time adversário
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