Em uma rápida inspeção no noticiário é possível encontrar fortes
evidências de pressões da Petrobrás para que governo permita aumento de preços
do Petróleo e seus derivados, como a gasolina, o que deverá acontecer nos próximos
meses.
No Brasil, o governo utiliza a estatal para suavizar os
impactos das flutuações do preço internacional do petróleo, não repassando
integralmente as variações positivas ou negativas do preço mundial para o
mercado nacional. A principal, se não única, justificativa é o controle da
inflação. De fato, aumento da gasolina desencadeia aumentos em quase todos os
setores da economia. Os agricultores terão custo maior para operar seus
tratores, tornando o produto agrícola mais caro, o transporte de pessoas e
produtos será mais oneroso, o custo da energia também será elevado através das
termelétricas que utilizam derivados de petróleo, etc. Por fim, nós,
consumidores, também pagaremos conta
maior . Nada melhor que uma política econômica que impeça o início desse ciclo
vicioso, certo?
Não é bem assim, existem perdedores nessa história. Um deles
é a própria Petrobrás que tem visto seus lucros e valor de mercado diminuírem
substancialmente. Outro prejudicado é o grupo de acionistas privados da
petroleira, que possui ações negociadas em bolsa. Mas quem se
importa com os lucros de uma estatal e com os acionistas privados? Afinal, defendem
alguns, estatal serve mesmo para atender “interesse público” - e a redução no
lucro é o custo dessa política da suavização dos preços-, e os acionistas.......
Bom, esses são especuladores gananciosos no mercado financeiro que não merecem
consideração na política pública.
Existem problemas sérios com esse raciocínio. Em primeiro
lugar, é preciso fugir do estereótipo do malvado especulador fumando charuto e
conspirando contra a sociedade. A bolsa é um dos instrumentos mais importantes
na diversificação de risco e por isso é depósito do dinheiro de vários pequenos
poupadores através dos fundos de pensão. Portanto, o trabalhador que ganha
pouco, mas contribui para plano de pensão da sua empresa, também é prejudicado
com a queda nos lucros da Petrobrás- papel mais importantes da bolsa e presente
no portfólio de quase todo investidor-, o que se reflete em uma aposentadoria menos
confortável. Brevemente, os novos
servidores públicos também farão parte desse grupo com a instituição do seu próprio
fundo de previdência. Será que todos esses trabalhadores devem ser ignorados
pela política conduzida pelo governo?
Bom, mas ainda há muitos trabalhadores que não contribuem
para planos de pensão e que, portanto, não seriam prejudicados, correto? Nada
mais enganoso. A redução nos lucros da Petrobrás diminui sua capacidade de
investir no oneroso, e desafiador, projeto de extração de petróleo do pré-sal,
riqueza que deve gerar ganhos enormes para sociedade brasileira, especialmente
se definitivamente aprovada lei que dedica royalties à educação.
Outro grupo que perde são os produtores de etanol, que vêem seu
retorno limitado pelos preços artificialmente reduzidos da gasolina. Como
resultado, consumidores utilizam menos o etanol e os produtores investem menos
na capacidade de produção, prejudicando a qualidade do ar, já que etanol polui
menos, e arrefecendo mais uma vez o projeto de universalização do produto.
Pode ser adequado o uso do subsídio ao petróleo (gasolina e
outros derivados ) para suavizar a inflação por um período reduzido de tempo.
No entanto, preços artificialmente reduzidos por um
longo período, como é o caso no momento, podem gerar sérias distorções na economia,
representadas por perdas no curto e longo prazos para toda a sociedade.
Portanto, defenda o aumento de preços da gasolina! Isso
mesmo!Quando parar em um posto de abastecimento nos próximos meses e pagar 15,
20 ou até mesmo 30 centavos a mais em um litro de gasolina, lembre-se dessa
discussão.
Obs: Argumento vale para aumento comandado pela Petrobrás e
não por um cartel de postos de gasolina. Nesse último caso, você deve ficar
furioso.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirProfº Sérgio Aquino, como sempre: brilhante!!!
ResponderExcluir"Em primeiro lugar, é preciso fugir do estereótipo do malvado especulador fumando charuto e conspirando contra a sociedade." - Ri muito ao ler e lembrar de colegas e professores que idealizam (e necessitam para viver) esse estereótipo.
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirNão bastando a Petrobrás ser um monopólio, o que já gera distorções por se só, agora o governo vem usa-la como executor de "política pública"?! Não é a toa que os empresários estão temerários em investir com esse cenário de incerteza
ResponderExcluirO pior de toda essa discussão é a interferência do setor público em instituições privadas. Vejamos alguns casos recentes redução de IPI para somente alguns setores, o caso da Vale onde a uma forte interferência do governo, o lucro caiu vertiginosamente.A dependência histórica do Brasil ser exportar commodities e ser importador de produtos com valor agregado.Perdemos recentemente 10% no valor das importações com o minério de ferro. E importamos corola com valor elevadíssimos.
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